QUARENTENA intempestiva
Φιλοσοφί NOS TEMPOS DO FIM
A ESCOLA DO ANTROPOCENO
Edgar Morin: "A experiência das irrupções do inesperado na história não penetrou nas consciências. A chegada do imprevisível era previsível, mas não sua natureza. Daí minha máxima permanente: “espere pelo inesperado”. Faço parte dessa minoria que previa catástrofes em cadeia provocadas pelo desdobramento incontrolável da mundialização tecno-econômica" [...]
O capitalismo global se tornou um vírus para o planeta: o antropólogo Philippe Descola acredita que essa pandemia deve nos alertar para uma “política da Terra” entendida como 'casa comum' não reservada exclusivamente aos humanos. "Isso exigia tratar o não humano como um 'fato social total' precisamente, isto é, transformá-lo em uma espécie de planeta em torno do qual giram múltiplos satélites. Eu chamei isso de antropologia da natureza." [...]
CADERNOS [em PDF]
UM RAIO CAIU BEM AQUI DO LADO Krenak
VIDA, SENHORA DA TERRA Lovelock
BIOSFERA, ANTROPOCENO E ANIMISMO AMERÍNDIO Luna
Ernst Gotsch: O ser humano, que é um animal de estepe, apareceu na última época glacial, no período mais seco. Com o fim dessa época, 88% dos lugares então habitados por ele se transformaram em florestas. Então ele, o ser humano, desesperadamente, ao invés de buscar um nicho para ser útil dentro do novo ecossistema, decidiu se afastar da floresta e faz isso até hoje. Essa falta de capacidade de ver, escutar e entender a natureza tem muito a ver com tragédia. Essa é a tragédia da humanidade moderna que caminha para o colapso. A humanidade, na história, sempre fez isso, mesmo há 12 mil anos. Começou regionalmente, depois continentalmente, e sempre entraram em colapso. Pense no Império Romano, pense no Império Inca, no Império Chinês. No final, a civilização sempre entra em colapso e todas vezes a humanidade fez a mesma coisa, se concentrando em grandes cidades, o que tem a ver com poder, mas é uma estratégia para suicídio.
David Attenborough
A Life on Our Planet
O célebre cientista e divulgador naturalista britânico alerta, em seu último livro, que a humanidade enfrentará uma sexta extinção em massa neste século [...]
“A ausência de um mundo comum está nos enlouquecendo”, afirma o francês Bruno Latour. Suas duas obras mais recentes apresentam essas ideias de forma complementar: Diante de Gaia: Oito Conferências Sobre a Natureza no Antropoceno mune o leitor de ferramentas filosóficas, enquanto Onde Aterrar? - Como se Orientar Politicamente no Antropoceno funciona como guia de intervenção sobre a conjunção das crises política e ecológica. Os dois livros foram lançados no Brasil [...]
Breakpoint: Uma Outra História do Progresso - L'homme a mangé la terre (Jean-Robert Viallet, 2018) documentário baseado na obra de Christophe Bonneuil & Jean-Baptiste Fressoz: L’Evénement Anthropocène: La Terre, l’histoire et nous.
Edgar Morin: "A experiência das irrupções do inesperado na história não penetrou nas consciências. A chegada do imprevisível era previsível, mas não sua natureza. Daí minha máxima permanente: “espere pelo inesperado”. Faço parte dessa minoria que previa catástrofes em cadeia provocadas pelo desdobramento incontrolável da mundialização tecno-econômica" [...]
O capitalismo global se tornou um vírus para o planeta: o antropólogo Philippe Descola acredita que essa pandemia deve nos alertar para uma “política da Terra” entendida como 'casa comum' não reservada exclusivamente aos humanos. "Isso exigia tratar o não humano como um 'fato social total' precisamente, isto é, transformá-lo em uma espécie de planeta em torno do qual giram múltiplos satélites. Eu chamei isso de antropologia da natureza." [...]
Com que forças posso contar e que ações devo tomar no contexto da dupla pandemia, biológica e política?
Se vírus se assemelham à figura do zumbi, não me parece que estamos falando do coronavírus, mas desse outro que inflama multidões com ódio e faz avançar o fascismo. Ou a pandemia que se experimenta no próprio modo de produção capitalista, com os seus negacionismos de ponta a ponta. [...] A dupla pandemia na verdade é uma fita de Moebius. Se há vingança, é contra esse regime. E só há um modo de cortar a fita, arrebentar o ciclo maldito: devolver ao que chamamos natureza os seus poderes políticos, produtivos, criadores [...]
"Quando chegar a hora de uma guerra entre as espécies, estarei do lado dos ursos”
Tendo escrito e pensado nos últimos anos sobre o fim do mundo que se anuncia pelo progressivo desenrolar da catástrofe climática e ecológica global, causada principalmente pela queima de enormes quantidades de combustíveis fósseis e por diversas outras práticas que movem a civilização capitalista industrial globalizada desde, sobretudo, meados do século passado, devo confessar que não esperava que o céu fosse começar a cair sobre as nossas cabeças tão cedo. [...]
Ailton Krenak: O Amanhã Não Está Á Venda.
É terrível o que está acontecendo, mas a sociedade precisa entender que não somos o sal da terra. Temos que abandonar o antropocentrismo; há muita vida além da gente, não fazemos falta na biodiversidade. Pelo contrário. Desde pequenos, aprendemos que há listas de espécies em extinção. Enquanto essas listas aumentam, os humanos proliferam, destruindo florestas, rios e animais. Somos piores que a Covid-19. Esse pacote chamado de humanidade vai sendo descolado de maneira absoluta desse organismo que é a Terra, vivendo numa abstração civilizatória que suprime a diversidade, nega a pluralidade das formas de vida, de existência e de hábitos [...]
Bruno Latour: Imaginar gestos que barrem o retorno da produção pré-crise.
O que o vírus consegue com a humilde circulação boca a boca de perdigotos – a suspensão da economia mundial – nós começamos a poder imaginar que nossos pequenos e insignificantes gestos, acoplados uns aos outros, conseguirão: suspender o sistema produtivo. Ao nos colocarmos esse tipo de questão, cada um de nós começa a imaginar “gestos barreira”, mas não apenas contra o vírus: contra cada elemento de um modo de produção que não queremos que seja retomado [...]
Edgar Morin: Que esta crise sirva para abrir nossas mentes, há tanto tempo confinadas no imediato.
Espero que a excepcional e mortífera epidemia que estamos vivendo nos traga a consciência não apenas de que somos arrastados para o interior da incrível aventura da Humanidade, mas também de que vivemos num mundo ao mesmo tempo incerto e trágico. A convicção de que a livre concorrência e o crescimento econômicos são panaceias sociais escamoteia a tragédia da história humana que é agravada por essa convicção [...]
A ecologia contemporânea continua a se nutrir de um imaginário em que a Terra aparece como a casa da vida. Trata-se de uma ideia implícita nas próprias palavras ecologia e ecossistema: oikos, em grego, designa a morada, a esfera doméstica bem organizada. Na realidade, a natureza não é o reino do equilíbrio perpétuo, onde todos estariam no seu lugar. É um espaço para a invenção permanente de novos seres vivos que alteram totalmente o equilíbrio. [...]
Jacques Rancière: Uma boa oportunidade?
Tais grandes projetos infelizmente deixam em suspenso uma pergunta: nesse momento quem fará tudo o que for “preciso” fazer para mudar tudo? As convulsões na ordem dominante não se efetuam porque tal ou qual circunstância excepcional revelaram suas mazelas. Tampouco se realizam quando pensadores que meditaram longamente sobre a história do capitalismo ou do antropoceno fornecem boas receitas para “mudar tudo”. [...]
La narrativa de la pandemia la muestra como enfermedad no como síntoma.
Nuestra imaginación está colonizada por una narrativa que predice el fin lineal de la historia; es más fácil culpar a un virus por la catástrofe que hacernos responsables por el modelo de mundo que tenemos, sustentado en la explotación de tierras y vidas robadas. La narrativa hegemónica hace uso de símbolos e historias preconcebidas, metáforas muertas, verdades absolutas asentadas en nuestras mentes a base de repetición. Pero la parálisis de este mundo nos permite escuchar con atención: hay pueblos que estaban aquí mucho antes, que nos dicen que el mundo ya se ha acabado en tiempos pasados y estos fines han sido lecciones que no debemos olvidar [...]
Boaventura de Sousa Santos:
Vivemos, sobretudo nos últimos quarenta anos, na quarentena política, cultural e ideológica de um capitalismo fechado sobre si próprio. A quarentena provocada pela pandemia é afinal uma quarentena dentro de outra quarentena.